Por que a Orfa Voltou?
E disseram-lhe: Certamente voltaremos contigo ao teu povo. (Rute 1:10)
A história de Rute é pequena, mas é tão rica em detalhes e lições valiosas que pelo tamanho singelo do relato, podemos passar desapercebidos desse tesouro de conhecimento prático da vida.
A história começa com uma família grande, onde parece que Noemi é a personagem central, ela perde o marido e ganha duas noras e a família cresce apesar da tragédia.
As moças Orfa e Rute, são corajosas ao se casarem para fazer parte de uma família de estrangeiros e pobres porque estão fugindo da fome. E de certa forma “azarados” já que o chefe da família morreu inesperadamente.
E se a ideia de que os nomes dos meninos descreviam sua condição de saúde for verdade, logo a coragem de Rute e Orfa ultrapassa as fronteiras chegando ao desespero que as levou á se casarem com rapazes doentes.
Apenas para lembrar o que já vimos em estudos anteriores nessa série sobre Rute: Malom significa “enfermo” e Quiliom significa “desfalecido”.
Após a morte dos meninos, elas ficam sozinhas, ás três. E nisso já temos uma lição valiosa. A lição de que sogra e nora são para sempre. A lição de que o casamento une a família de tal forma, que a morte dos maridos não é suficiente para separar. Família continua sendo família.
Querendo ou não, proposital ou não, a história acaba por nos confrontar com essa ideia que permeia a bíblia sagrada, a ideia de que família é para sempre. O que Deus uniu não separe o homem.
O marido morreu? Mas a mãe dele ainda está viva? Biblicamente ela ainda é sua sogra. E não preciso citar uma lista de versículos para te convencer disso. Basta olhar a lei do levirato aplicada em Rute posteriormente (Dt 25:5-10).
Caso Rute tivesse perdido os laços familiares com Noemi após a morte do seu marido, então a lei do levirato que é válida para israelitas e não para estrangeiros, não poderia ser aplicada á ela. Mas como os laços continuam, a lei se aplica.
Veja quão grande é este mistério, a morte separa o marido da mulher e vice versa, todavia o conceito bíblico de família é tão poderoso que nem a morte pode separar. A morte separa um casal, mas não separa uma família.
Morre o marido, mas Orfa e Rute continuam sendo noras de Noemi e a mesma continua sendo sogra delas, bem como a bíblia descreve (Rt 1.8). E se elas tivessem tido filhos, a Noemi continuaria sendo avó, ainda que morressem pai e mãe, os parentes de Noemi continuariam sendo tios. Porque para Deus uma vez família, sempre família.
E esse conceito está em toda a bíblia sagrada toda vez que uma genealogia é contada, ela menciona nomes dos que já morreram, mas que ainda hoje são contados como sendo da família. E como diria Jesus: Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele vivem todos. (Lc 20.38).
Isso muda totalmente o conceito de casamento que a sociedade tem, ou melhor, estabelece o conceito e prova mais uma vez o motivo pelo qual é tão importante que o casamento seja único e eterno até que a morte os separe.
Voltando ao texto em busca de mais lições valiosas, percebemos de forma sutil que Orfa e Rute se casaram para fugir da casa de seus pais. Elas não se casaram com estrangeiros de forma aleatória, mas proposital.
Elas queriam uma nova vida. Elas queriam uma vida diferente. Elas queriam sair da casa de seus pais e automaticamente abandonar a cultura de Moabe á qual foram obrigadas a aceitar pelo simples fato de terem nascido em Moabe.
A aptidão imediata delas em ir com Noemi para longe de Moabe (Rt 1.10), sabendo que são grandes as chances de nunca mais voltar, revela um desinteresse grande pela terra natal ao ponto de que Noemi precisou fazer um discurso e só convenceu uma delas, não conseguiu convencer ambas.
Pois voltar para a casa dos pais implicaria em voltar para a cultura de Moabe. Pois se casando com israelitas, de conformidade com a cultura da época, a eposa segue a liderança do marido fielmente, então essas mulheres automaticamente se tornaram parte do povo de Israel.
E vivendo na casa de uma família tradicional de Belém de Judá, terra do pão, da tribo mais poderosa de Israel, logo essas mulheres aprenderam um pouco da lei e dos costumes do grande Eu Sou.
Naquela época, a mulher adulta ou não, serviria ao deus á quem o dono da casa servisse. E isso traz luz ás palavras de Paulo ao carcereiro quando disse: “Crê no Senhor Jesus Cristo, e será salvo tu e a tua casa” (At 16.31).
Pois ele se referia a cultura antiga que ainda resistia no novo testamento de que: Se o pai tomasse uma decisão de mudança, toda a família deveria seguir e de fato seguiria. Por isso será salva a tua casa, se eles seguirem os teus passos crendo em Jesus.
Isso não mudou muito hoje em dia. Em qualquer família, as decisões do chefe da casa mudam a história de todos dentro da casa. Se o pai de família for beberrão, isso afeta a todos, se for trabalhador, afeta a todos, se for viciado, afeta a todos, se for fiel a Deus, afeta a todos na casa.
Por isso, voltar para casa, no caso de Orfa e Rute, significa voltar a ser moabita, voltar a servir ao deus quemos, e participar dos seus rituais de sacrifício e prostituição (Nm 25.1-3). Veja que Noemi disse claramente:
Por isso disse Noemi: Eis que voltou tua cunhada ao seu povo e aos seus deuses; volta tu também após tua cunhada. (Rute 1:15)
Elas estavam ainda em Moabe, talvez próximas da fronteira, e por isso já tinham feito uma longa viagem até então. E isso mostra que realmente as meninas estavam bem firmes na sua decisão de irem embora de Moabe crendo que em Belém havia uma vida melhor para elas.
E isso não é conjectura, isso é a bíblia quem diz que elas já estavam em viajem, note o verso 7 do capítulo 1 do livro de Rute.
Não há consenso nas palavras de Noemi, ou melhor dizendo, Mara. Pois ela diz “tua cunhada” reconhecendo serem família, mas ao mesmo tempo pede para que elas se separem, como assim? E não somente isso, o pedido implica uma decisão de fé.
Pois quando ela diz: “Eis que voltou tua cunhada ao seu povo e aos seus deuses…”
Ela se refere ao fato de que, voltando, já não será mais israelita, já não servirá mais o grande Eu Sou, já não guardará o sábado e não terá direito na lei do Senhor, pois voltando, ela abre mão dos seus direitos, abre mão de seguir os mandamentos, abre mão das bênçãos que foram reservadas ao povo de Deus, e especificamente nessa família, as bênçãos que estão sob Judá.
É muita coisa para abrir mão. Imagine abrir mão de fazer parte da família de Judá? E como já vimos, nem Orfa e nem Rute apoiam a cultura dos moabitas. Ambas querem distância disso. Então por que a Orfa voltou?
Pois a questão crítica nesse relato é que claramente a Orfa não queria voltar. Ela claramente queria seguir firme na viajem para Belém. Ela não andou todo o caminho até a fronteira indecisa. Ele veio firme seguindo a liderança de Noemi e a amizade de Rute.
Ela já estava livre da cultura do mundo por ter se casado com um cristão, ela já não precisava voltar para aquela antiga vida, era só seguir junto com sua nova família, a igreja.
A Mara foi desanimadora em suas palavras? Sim, com certeza. Mas a Mara foi responsável pela desistência de Orfa? Não totalmente. Porque a decisão final é de Orfa. A Mara tem sua parcela de culpa na perda dessa alma? Sim, mas a decisão final é de Orfa.
Tanto que, Rute permaneceu, ainda que ouviu o mesmo apelo de Mara. Ao que parece, Mara veio durante todo o caminho fazendo um discurso ao ponto de Rute pedir para ela parar de insistir (Rt 1.16).
Então por que a Orfa voltou?
Ah meus amados leitores. O caminho para Belém é o caminho para o céu, onde encontraremos Boaz, tipo de Cristo, e nos casaremos com Ele.
Porém, assim como andar pela fé é uma jornada cheia de incertezas, nem todos permanecem até o final, pois como está escrito: Mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo. (Mt 24.13).
A Mara fez o papel da amargura dessa vida, as aflições das quais nos avisou Jesus dizendo “no mundo tereis aflições” e a Orfa sucumbiu ás aflições da vida, se deixou levar pelas adversidades do mundo e voltou atrás, abandonou a igreja, desistiu de ir para Belém, a terra do pão.
O seu destino é tão incerto que não foi digno de ser registrado. Mas o destino de Rute é tão glorioso que se tornou o tema do livro. Aquela que começou como coadjuvante, se tornou a personagem principal da história.
Aprendemos com Orfa que nunca devemos desistir dos nossos sonhos, por mais que alguém mais vivido e mais experiente diga o contrário. Nunca devemos abandonar os nossos planos pela metade.
A Orfa começou e não concluiu, iniciou e não finalizou. Sonhou e não correu atrás até alcançar. Desejou e não alcançou. Devemos fazer como diz a escritura: “Por que tu porém vai até o fim”.
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